terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Clássico lírico da saudade - "Canção do exílio"



Gonçalves Dias cantou, sobretudo, a saudade de sua doce pátria. O poeta passou boa parte de sua vida estudando e trabalhando na Europa. O sentimento de extrema nostalgia levou-o a escrever poemas que cantavam as belezas naturais do Brasil, utilizando as suas tenras lembranças como mecanismo de evasão. O seu poema mais célebre e parodiado da Literatura brasileira é “Canção do exílio”:

Kennst du das Land, wo die Citronen blühen,
Im dunkeln Laub die Gold-Orangen glühen?
Kennst du es wohl? — Dahin, dahin!
Möchtl ich... ziehn. *
 Goethe

Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Coimbra - julho 1843.

* - "Conheces a região onde florescem os limoeiros ?
laranjas de ouro ardem no verde escuro da folhagem;
conheces bem ? Nesse lugar, eu desejava estar"
(Mignon, de Goethe. Tradução - Manuel Bandeira)

O que primeiro nos chama a atenção é a epigrafe de Goethe que serve como inspiração e determina o tom do poema, a exaltação e o canto de saudade da terra amada. O poeta estava em Portugal, cursando Direito quando escreveu o texto. O eu lírico exprime o seu estado de espírito nostálgico, estabelecendo uma oposição da sua terra natal como lugar distante (lá) e a terra do exílio. No decorrer do poema, o poeta simbolizado pelo sabiá, expressa a superioridade de sua terra natal, espaço sentimental de sua infância e seus amores. O sentimento de amor pelo Brasil e por sua natureza tornou-se tão emblemático que, inclusive, o poema é citado, por Joaquim Osório Duque Estrada  na letra do Hino nacional:

“Do que a terra, mais garrida,
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
"Nossos bosques têm mais vida",
"Nossa vida" no teu seio "mais amores."

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