Em
Os sofrimentos do jovem Werther, Goethe produziu uma intensa obra de arte que
traduziu os seus tormentos e estados de alma juvenis. Na trama, o
editor-narrador Guilherme publica as memórias do seu melhor amigo, Werther,
durante uma longa temporada num vilarejo alemão. Na série de cartas publicadas,
lemos a descrição do amor febril e avassalador do protagonista por Carlota,
filha de um magistrado provincial. A seguir, leremos um trecho em que Werther
descreve o seu arrebatamento sentimental pela jovem.
(Carta
20) 16 de Julho.
“Ela
é sagrada para mim. Todos os desejos morrem em sua presença. Desconheço o
estado em que existo quando estou a seu lado; figura-se me que sou todo alma.
Ela tem uma ária
que toca no cravo
com a energia de um anjo; quanto é expressiva e maviosa e ao mesmo tempo singela! É a sua ária
favorita, e dissipam-se todas as minhas penas, os meus pesares, enfim, todos os
meus males logo à primeira nota que Carlota toca.
Sensibilizam-me a tal ponto aqueles
sons harmoniosos que acredito inteiramente em tudo que se diz a respeito do
encanto que produzia a música dos antigos. Quantas vezes ela toca em momentos
em que eu desejaria despedaçar-me; então as trevas da minha alma, perturbação
desapareceram e eu respiro com mais liberdade.” (p. 60 e 61)
Vocabulário:
Ária: composição destinada ao canto, de
conteúdo romântico e sentimental.
Cravo:
instrumento de teclas de origem européia. O seu som é produzido por cordas que
são beliscadas por dispositivos internos.
Maviosa:
agradável, suave, delicada.
No trecho lido, podemos perceber vários
traços que caracterizam a estética romântica. Na primeira frase, a personagem
estabelece uma distinção explicita entre a mulher amada e a si. Carlota é
descrita como “sagrada”, ou seja, Werther a coloca num plano superior, fazendo
assim um contraponto entre ele, homem sequioso de desejos, preso a este mundo
imperfeito, e a Carlota, quase um ser divino, repleta de pureza e de amor. O
sentimento da personagem é profundamente exacerbado e sua ação e decisão são guiadas
pelo seu coração. A personagem está completamente apaixonada por Carlota que
não consegue conceber a sua existência sem a simples presença do seu amor. Dominado
por um sentimento exagerado, ele cita que “as trevas da minha alma”
desapareceram quando Carlota tocava ao cravo. O individualismo é extremo, pois
o mundo e sua circunstancia descritas pelo narrador mundo conforme o estado de
espírito da personagem. Essa paixão desmedida levará a personagem a um desfecho
trágico
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