quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Rodolfo Teófilo Moedeiros Falsos



Trecho de crônica de Rodolfo Teófilo  

"Moedeiros Falsos"
             (...)
             Recolhi-me ao gabinete e aí cismava nas cousas da vida, sentindo uma volúpia, que só a alma do cearense é capaz de sentir, ouvindo o tamborilar da chuva no telhado.
(...)
A chuva continuava, e eu, para matar o tempo, procurei um livro.
Fui à estante e o primeiro em que puz a mão foi “O Pão” – da gloriosa – “Padaria Espiritual”.
Feliz coincidência! Tinha com que me deleitar, ia remoçar vinte anos, viver das gratas recordações do passado, em que meu espírito de moço tinha ilusões e era crente.
Aquelas folhas estavam impregnadas do perfume suave das flores da mocidade.
Nelas eu acharia um lenitivo aos enganos da velhice, às saudades dos tempos idos, das ilusões que ficariam perdidas pelos ínvios caminhos da existência, se avivariam, mas me confortando, como bem disse Garrett.
Abri o livro e me vi cercado dos meus bons e queridos companheiros da Padaria, dos quais a morte levou a maioria ainda no alvorecer da vida.
Transportei-me reminiscências! As sessões aos sábados, aqueles inesquecíveis serões literários, eu os estava assistindo; as figuram que eu via espiritualmente se corporizavam e eu as estava vendo como naquela época. A ilusão era perfeita! Que saudade me pungia todo!... Todos eles ao redor de mim, como se a maior parte deles pudesse se erguer do sepulcro e para mim vir! (sic).
(...)
      Cenas e Tipos

Festival de Cultura UFC 2012




          Para o público interessado em participar da Oficina "As polêmicas literárias da Padaria Espiritual", a seguir seguem os links onde o trabalho é divulgado:

https://www.facebook.com/events/535748966440669/


http://www.festivalufcdecultura.ufc.br/2012/


Ementa - Oficina As polêmicas literárias da Padaria Espiritual





RESUMO-OBJETIVO-METODOLOGIA

          A presente oficina tem como propósito investigar as polêmicas da Padaria Espiritual (1892-1898), no âmbito do contexto literário regional e nacional, enfatizando o escritor Adolfo Caminha e seus embates com a agremiação, através da leitura do seu livro de crítica Cartas Literárias e dos números do periódico O pão. Essa oficina pretende discutir alguns pontos referentes à história da Padaria Espiritual. Apesar de reunir uma geração destacada de artistas, escritores e intelectuais do Ceará do final do século XIX, não formava um grupo inteiramente harmônico, esteticamente e ideologicamente.
          Para esse estudo, apoiamos-nos no conceito de contexto desenvolvido por Dominique Maingueneau, em O contexto da obra literária e com o levantamento da construção do discurso crítico dos intelectuais da geração realista brasileira, por Roberto Ventura, em  Estilo tropical: história cultural e polêmicas literárias no Brasil. Pautados nessas ideias, realizamos um sucinto mapeamento da vida intelectual e literária da Padaria Espiritual. Priorizamos em nossa apresentação as polêmicas de Adolfo Caminha com Antonio Sales e Rodolfo Teófilo, além dos seus ataques à referida agremiação. Também abordaremos a recepção do programa de instalação e do periódico O Pão em outros centros culturais do Brasil, afora a expulsão dos padeiros Temístocles Machado, Tibúrcio de Freitas e Álvaro Martins do grêmio, motivando a criação do Centro Literário.
         Portanto, entendemos que a literatura é um espaço de lutas, onde os escritores  disputavam e tentavam se inserir de modo problemático na Tradição literária. Este trabalho é um segmento da pesquisa de mestrado "Rodolpho Theophilo: a construção de um romancista". Para esse projeto, fez-se necessário uma análise do contexto de Rodolfo Teófilo, pois entendemos que o escritor desenvolveu uma relação dinâmica e complexa com as condições históricas, políticas e culturais que interferiram direta e indiretamente na produção de sua obra literária.

Oficina: As polêmicas literárias da Padaria Espiritual


sábado, 18 de agosto de 2012

HÉRACLES E A ORIGEM MÍTICA DA VIA LÁCTEA

A Origem da Via Láctea. Pintura do mestre renascentista italiano  Jacopo Tintoretto (1575), National Gallery, Londres.
  

Uma das funções do mito é apresentar uma explicação alegórica em forma de narrativa para a origem do mundo, dos homens e das coisas. Um exemplo interessante é a origem do nome da Via Láctea, galáxia em forma de espiral, onde está localizado o Sistema solar, lar de seres bastante inquietos e contraditórios: os homens.

A Via Láctea, desde tempos imemoriais, cativa a imaginação dos homens. Só podemos contemplar sua beleza em noites escuras, em desertos ou no topo de montanhas remotas. Sem a poluição luminosa das grandes cidades, podemos admirar em todo o seu esplendor esse longo arco branco pontilhado de estrelas.

Atualmente, a teoria científica mais aceita sobre a origem do universo e de tudo que reside nele é a do Big Bang, mas na Grécia antiga, a origem da Via Láctea estava relacionada ao mito de Herácles.

Héracles (ou Hércules para os romanos) é o mais célebre herói grego. Ele é filho de Zeus (Senhor do Olimpo e dos raios) com a mortal Alcmena. Dessa união nasceu um bebê superforte, que seria capaz de proteger os mortais e os deuses, que reinaria sobre a casa de Perseu. O seu nome Héracles,  significa a “glória de Hera” (essa é outra história, mais comprida e empolgante). Contudo, a esposa de Zeus, Hera, não gostava nem um pouco dessa “escapulidas” de seu marido, perseguindo, tanto as amantes, quanto os infantes frutos do rei dos deuses.

Como Zeus previra uma vida repleta de glórias para o seu filho, tinha urgência em conquistar a imortalidade dele. Isso só podia ser garantido, se Héracles fosse amamentado pelo leite divino de Hera, ao menos uma vez. Como realizar tal façanha, se a deusa tinha ódio mortal do pequeno bastardo? 


 O nascimento da Via Láctea, 1636. Quadro do pintor  barroco Peter Paul Rubens. 
 

Zeus pediu ajuda a Hermes (mensageiro dos deuses e figura deveras esperta) para levar o bebê Héracles junto à esposa enquanto ela dormia. Héracles é colocado no colo de Hera e sugou o leite de seu seio com bastante força, causando muita dor. Ela acordou, de sobressalto, e empurrou o bebê violentamente. Um jorro de leite saiu do seio de Hera e manchou os céus, formando o caminho de estrelas que deu origem ao que chamamos de Via Láctea. No poema épico “Eneida” (séc. I a. C.), o poeta romano Virgílio narra outra versão do mito, explicando que Hera fora induzida pela deusa Atena a amamentar o bebê, sem saber que se tratava de Héracles. Através do leite divino, Héracles se tornou imortal e, em sua juventude e maturidade, passou por diversas aventuras e realizou os famosos “12 trabalhos”. Além das fontes mitológicas gregas, bem como poemas e tragédias, existem várias fontes para conhecermos o mito de Héracles, um livro interessante é o do estudioso brasileiro Junito de Souza Brandão, “Mitologia Grega”. A obra é composta de três volumes, sendo o terceiro dedicado aos heróis.

 Hércules e a hidra, 1475,  preservada na Galeria Uffizi, em Florença. Por Antonio del Pollaiuolo.

 O mito trabalha com o pensamento poético, pois os antigos, ao observarem a abóbada celeste limpa e repleta de estrelas, viam uma grande faixa de aspecto leitoso que cruzava todo o céu. Portanto, os poetas e os artistas estabeleceram a imagem poética, comparando a forma da Galáxia com o leite. 

 Fotografia da Via Láctea, por Stéphane Guisard. A imagem mostra a região que abrange o céu da constelação de Sagitário (o arqueiro) para Scorpius (o escorpião). Observatório do Cerro Paranal, Chile, 2009.

Em relação à palavra Galáxia, o dicionário Houaiss registra sua etimologia: “do latim galaxìas,ae  e do grego galaxias ou galaktikos - "leitoso", e kyklos - "círculo". A raiz “gala” de galáxia significa “leitoso”. Portanto, Via láctea, expressão oriunda do latim, no plano metafórico significa “rastro”, ou “caminho de leite”.

Após o século XIX, os cientistas descobriram outras galáxias, como a de Andrômeda e a Grande Nuvem de Magalhães. A palavra então virou termo técnico da Astronomia, sendo utilizado para designar esses tipos de conglomerado de astros. O termo Via Láctea tornou-se somente a galáxia na qual o Sistema solar faz parte.


Concepção artística da estrutura espiral da Via Láctea com dois braços estelares principais e uma barra central. NASA, 2008.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O que é Resenha?



Etimologia
Re – “de novo” + Signum “sinal, assinatura, marca”.
Conceito: apreciação breve de um objeto cultural ou científico.
Objetivo: Apresentar e julgar o objeto resenhado para determinado público, emitir uma opinião, descrever.

Estrutura da resenha
  • Introdução/ apresentação
  • Descrição do objeto ou tema
  • Apreciação crítica
  • Referência bibliográfica

Pontos importantes para a construção da resenha crítica:
  •  Identificar a obra e o autor;
  • Apresentar a obra;
  • Descrever a estrutura e o conteúdo da obra;
  • Analisar criticamente;
  • Recomendar ou não a obra.

Fábula de Esopo: A raposa e as uvas


A raposa e as uvas, ilustrado por Milo Winter, em uma antologia de Esopo (1919).

 
A raposa e as uvas

Uma raposa estava com muita fome e viu um cacho repleto de uvas numa rama. Quis pegá-lo, mas não conseguiu. Ao afastar, disse para si mesma:
 - Estão verdes.
O homem que culpa as circunstâncias fracassa e não vê que o incapaz é ele mesmo.  

Esopo


Äsop (Esopo). Data 1639-1640. Diego Velásquez.

          Esopo, escravo liberto, foi o introdutor da fábula na Grécia (século VI A.C), na tradição escrita. Seu repertório é constituído de inúmeras fábulas e apólogos. Seus textos além de divertir, tinha o objetivo de educar a alma, através  de enredos alegóricos, cujas tramas eram desenvolvidas por animais. No final de cada fábula, havia uma lição moral. Séculos depois, um monge grego chamado Planúdio,  no século XIV, reuniu os textos do fabulista e publicou a obra Vida de Esopo.

Breve comentário sobre o gênero Fábula

Busto de Esopo. Museu Pushkin.


          Fábula (palavra derivada do latim “fari”falar e do grego “phao”dizer) forma narrativa breve que, tal como o apólogo e a parábola, tem o próposito de ensinar virtudes  aos homens. Suas personagens são animais falantes que se comportam como humanos. Nela, as situações narradas denunciam sempre os erros de comportamento que resultam na exploração do homem pelo homem.
          No universo cultural ocidental, considera-se como primeiro fabulista de prestígio o escravo grego Esopo (século VI a. C.). Outro autor de fábulas de destaque é o romano Fedro, que atuou no século I a.C.
          As fábulas de Esopo primavam pela astúcia, enquanto as de Fedro eram amargas e pessimistas, refletindo alegoricamente o contexto histórico em que viveu.


 Ilustração de Jean de La fontaine

              Já no século XVII, o escritor francês Jean de La Fontaine foi responsável por popularizar o gênero em toda Europa.



          Ele publica, no ano de 1668, a obra  Fábulas Escolhidas. O livro era uma coletânea de 124 fábulas, dividida em seis partes. La Fontaine dedicou este livro ao filho do rei Luís 14. Na verdade, La Fontaine não elaborou novas fábulas, o que fez, com bastante maestria, foi recontar as fábulas da tradição greco-latina, revisitando Esopo e Fedro. As fábulas foram moldadas num estilo clássico, transformadas em instrumentos satíricos. O autor fancês critica o caráter e os costumes da época, utilizando os animais para retratar os vícios e as maldades dos homens. Os animais se constituíram, ao longo do tempo, em símbolos seculares. Por  exemplo, o leão apesar de representar nobreza, também simboliza a tirania e o despotismo, a rapoza simboliza a esperteza, a formiga o trabalho, etc.



Modelo de Resumo: Branca de Neve


 

Branca de Neve atravessa a floresta sozinha. Ilustração por Chales Santore.

 

A narrativa conta-nos a história de uma bela princesa que despertou a ira de sua madrasta, devido a sua inigualável beleza. Aconselhada pelo Espelho mágico, para se tornar a mais bela, a madrasta envia o caçador para matá-la. Ele, porém, teve piedade e a libertou. Na floresta, Branca de Neve descobre uma casinha com móveis minúsculos. A casa pertencia aos sete anões, que ao encontrar a jovem, convidam-na para morar com eles e ajudar na lida doméstica. O Espelho alerta a Madrasta que a Branca continuava viva. Ela consegue encontrá-la e disfarçada de velhinha, oferece-lhe uma maçã envenenada. Branca de Neve prova do fruto e cai. Os anões a encontram com aparência de morta e ficam desconsolados. Eles levam o seu corpo para floresta. Um príncipe que passava de cavalo pela região encontra os anões e se apaixona pela bela. Após dar um beijo em Branca de Neve, desperta-a do sono e eles se casam.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Modelo de Resenha 2 (Marcos Bagno)


 
Resenha: “Ensino de português: do preconceito linguístico à pesquisa da língua”, de Marcos Bagno.

Há tempos, o ensino o de Língua portuguesa no Brasil apresenta enormes problemas e contradições. Além do ainda e alarmante fato da maioria da população brasileira não ter acesso a uma educação de qualidade, existe um grande divergência entre a  compreensão da linguagem oral e da norma culta, padrão escrito da língua. No Boletim Abralin Nº 25, existe um artigo intitulado “Ensino de português: do preconceito linguístico à pesquisa da língua” que traz algumas propostas para mudar o antigo tratamento que era dado à língua vernácula. O texto foi escrito por Marcos Bagno, renomado escritor, linguista, tradutor, Doutor em Filologia e língua portuguesa pela Universidade de São Paulo, professor de Linguística do Instituto de letras da Universidade de Brasília.
O texto inicia-se com uma análise de um trecho dos Parâmetros Curriculares Nacionais que trata do preconceito linguístico. O autor realiza  uma severa crítica ao preconceito linguístico, que é utilizado como uma justificativa para excluir pessoas de menor poder econômico dos direitos  e bens sociais. Marcos Bagno demonstra a sua indignação contra as classes dominantes, pois acreditam que são detentores de uma língua mais correta, culta.
O preconceito linguístico no Brasil é bastante peculiar, devido as suas duas direções: de dentro da elite para fora, contra os menos desfavorecidos, portadores de variedades não padrão; e o de dentro da elite ao redor de si mesma, devido à crença de que os brasileiros não falam corretamente o português. Essa intolerância contra a própria língua é explicada pelo autor através de um estudo do contexto histórico brasileiro.  Ora, as mudanças de regime político (da Monarquia para à República) aconteceram sem a participação popular e favoreceram somente as classes dominantes. E continuou assim em todos os momentos históricos. Essa pesada herança colonial tornou voraz a diferença entre os ricos e pobres, evidenciando seus efeitos sobre a língua que falamos.
No decorrer do artigo, o autor mostra um resultado de uma pesquisa efetuada com pessoas de nível superior nas capitais brasileiras, tornando evidente que esses indivíduos não usam efetivamente a norma-padrão que tanto pregam em todas as situações de comunicação no cotidiano.
Portanto, Marcos Bagno conclui que o ensino tradicional do português é contraditório, pois é defendida uma norma padrão que se espelha no que é falado e escrito em Portugal, enquanto a população brasileira, tanto rica e pobre, comunica-se realmente através de um português que se utiliza de formas não padrão e intuitivas.
O texto finaliza-se com uma série de sugestões para os professores de língua portuguesa. São propostas que tendem a valorizar as variedades não padrão do português brasileiro e estudá-la em sala de aula, incentivar as atividades de pesquisas e desconstruir a ideologia linguística preconceituosa e conservadora que vigora até hoje em nosso país.
O que falta no artigo é um número maior de resultados da pesquisa citada sobre o uso efetivo da língua para sedimentar mais os argumentos do autor. Apesar do caráter militante e contrário à hegemonia da norma padrão e que possa parecer a favor de uma possível coloquialização da língua, o autor não impõe nenhuma mudança radical. Marcos Bagno propõe sugestões aos linguistas, professores de língua e educadores, que embora pareçam utópicas, podem ser realizadas aos poucos e têm um formidável teor de validade. O artigo é um ótimo instrumento de reflexão que nos leva a repensar os nossos conceitos sobre a língua portuguesa no Brasil.

REFERÊNCIA  BIBLIOGRÁFICA
BAGNO, Marcos “Ensino de português: do preconceito linguístico à pesquisa da língua”In: ABRALIN: Boletim da Associação Brasileira de linguística/Associação Brasileira de linguística, n° 25. Fortaleza: Editora UFC, 2000.
________ O preconceito linguístico. São Paulo, Editora Loyola, 1999.
Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília, Secretaria de Educação Fundamental, 1997.

Para mais informações a respeito deste pesquisador, basta conferir o site dele:
http://marcosbagno.com.br/site/ 

Link do documentário Mestres da Literatura - Lima Barreto

Olá, este é o link do documentário

http://tvescola.mec.gov.br/index.php?option=com_zoo&view=item&item_id=1351

MESTRES DA LITERATURA - LIMA BARRETO: UM GRITO BRASILEIRO
do site TV Escola, do Ministério da Educação. Lá, é possível encontrar documentário e aulas dos mais variados assuntos. São ótimos instrumentos para enriquecer as aulas.

Modelo de Resenha 1 (Lima Barreto)




Resenha: Lima Barreto: Um grito brasileiro (documentário)

            Os documentários da série Mestres da Literatura, produzidos pela TV escola, sintetizam a vida e a obra de grandes escritores brasileiros. O filme Lima Barreto: um grito brasileiro retrata ao longo de quase meia hora, a conturbada vida do escritor carioca e sua visão artística dos paradoxos da Primeira República. O enfoque maior do documentário é a biografia de Lima Barreto, acentuando a sua condição sócio-cultural como ponto preponderante para o entendimento de sua obra literária.
            O próprio subtítulo do documentário é assaz esclarecedor: “um grito” remete ao fato de Lima Barreto ser filho de pais pobres e mulatos, revelando que o preconceito racial e social foi o seu grande empecilho perante as suas aspirações intelectuais. A expressão também revela a denúncia desses problemas na escritura do seu texto literário. Já o termo “brasileiro” alude ao fato de sua obra se caracterizar por tentar interpretar os costumes, a cultura e a vida política de um país recém-saído da monarquia e que não vislumbrava sequer uma tentativa de amenizar as graves contradições existentes.
            O aspecto desafortunado do escritor é bastante ressaltado. Incompreendido, entregue ao alcoolismo, recolhido diversas vezes ao hospício, é morto por uma sociedade que lhe deu as costas. Além da biografia, o filme aborda o percurso intelectual de Lima Barreto, a sua incursão no campo jornalístico carioca e, sobretudo, os seus principais textos ficcionais.
            A obra que apresenta uma análise mais apurada é Triste fim de Policarpo Quaresma. Esse é o livro mais célebre de Lima Barreto, porque tece uma irônica crítica ao nacionalismo exagerado do século XIX, sob a figura quixotesca de Policarpo Quaresma. Nessa obra, o escritor carioca interpreta o Brasil como um drama, mostrando-nos a personagem título como uma tentativa de ser um projeto civilizatório da República. Sobre o assunto, o documentário traz o depoimento do ator Paulo José, que interpretou Policarpo Quaresma no cinema em 1998. O ator enfatiza que a grande pergunta que o livro nos deixa é: o que fazer para o Brasil dar certo?
            O filme traz várias imagens e vídeos do começo do século XX, relacionados à obra de Lima Barreto, além de passear pelos cenários cariocas abordados pelo escritor. O filme também traz o depoimento de renomados críticos literários e historiadores como Nicolau Sevcenko,  Afonso Carlos Marques dos Santos, que refletem sobre o lugar de Lima Barreto na tradição literária brasileira e a permanência de sua obra.
            Na parte final, o pesquisador Antonio Arnani Prado nos alerta que “temos que ler Lima Barreto, pois somos um país socialmente injusto. Somos um país  onde os pobres continuam pobres e a elites continuam no lugar delas. Não é pra se aprender português que se lê Lima Barreto. Lê-se Lima Barreto para aprender a ser brasileiro.”
            O documentário é um excelente convite para conhecermos um pouco mais sobre a vida e a obra desse escritor, dono de um texto rico estética e culturalmente, mas que morreu agrilhoado pelo alcoolismo e pelo preconceito racial.

REFERÊNCIA  BIBLIOGRÁFICA
Documentário: Mestres da literatura – “Lima Barreto: um grito brasileiro”, disponível em: http://tvescola.mec.gov.br
BARRETO, Lima. Triste Fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: Editora Ática, 1998.
 BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 2001.
MIGUEL-PEREIRA, Lúcia. Prosa de ficção (1870 – 1920). Belo Horizonte, Itatiaia, 1988.